quinta-feira, 21 de julho de 2011

Infidelius - Capitulo 9 (parte 2)




Em espiral de fumo, da tua boca saído
Pacote amarrotado, cigarro destruído
Já não sou quem fui fumado,
Dos meus sonhos afastado!!
http://rabiscosdealma.blogspot.com/2010/09/fumos.html

As pernas tremiam-lhe como varas de ceara ao vento, fustigadas pelo soprar de uma ameaça soletrada e afirmada na voz calma e sonante de Nicolas.
Era Domingo e subitamente os seus planos, minuciosamente traçados, encontravam-se agora colocados em causa pelo Nicoilas.
De face branca tolhida pelo desespero e pela arrogância da jogada de Nicolas em o enfrentar na sua própria casa, Caio caminhava num passo rápido tentando organizar as ideias.
A verdade é que não sabia que volta haveria de dar a este subito acontecimento e odiava ser apanhado de surpresa, acima de tudo porque ele era um tipo de plamnos, de preferência de regra e esquadro e por outro lado, nunca sentira tanto mêdo como agora.
Começava, cada vez mais , a dar valôr ao sofrimento de Marisa. Era de facto impossível, ser-se indiferente a Nicolas.
Era como uma bactéria que se entranha, baralhando o sistema imunitário, e quando se dá conta a infecção já se alastrou de tal forma, que não pode ser combatida.
O gajo é perigoso, muito perigoso! pensou Caio cada vez mais alarmado.
Sacou um cigarro e abandonando o sacrifício de se martirizar, sentou-se na primeira esplanada que viu e pediu um café, enquanto remoía as alternativas.
Em primeiro lugar tinha Nicolas, àvido de correr com ele da vida de Marisa e pelo que ele pudera vêr, o Belga não era pessoa de ameaçar em vão. Assim, tinha um inimigo poderoso, disposto a lutar até às ultimas consequências. Depois, e sendo certo que apesar de o ter intimidado com um pseudo video, sabia que fôra ele quem ganhara o primeiro embate e que em breve ele descobriria que de facto, não existe video algum. Seria uma questão de tempo até ele regressar mais forte e mais ousado.
No fim de tudo tinha a segurança de Marisa. A mulher da sua vida, os planos de serem felizes,só dependeria de conseguirem iludir Nicolas.
A grande questão contudo era se tal valeria a pena?
Valeria de facto a pena colocar a segurança dele e de Marisa em jogo? Poderiam eles um dia se livrarem de vez do fantasma que os perseguia? Seria ele capaz de proporcionar a Marisa toda a felicidade que ela merece?
 Caio rodou o corpo cilíndrico do cigarro entre dedos, soltando recortadas nuvens de fumo, fixando o olhar na ponta incandescente do Marlboro.
O tempo, pensou ele, é um cigarro acesso, gastando-se nas nossas mãos, implorando-nos uma acção, uma razão, uma resposta.
Mas se o tempo era um cigarro, as horas mortas passadas a pensar sem chegar a conclusão, eram como amontoados de cinza, que se desprendiam do cigarro após serem consumidas.
Pousou a chávena de café já vazia e de subito pensou, mas que porra estou eu a pensar?
Como posso estar a ser tão tapado? Só tenho de seguir o plano. A Marisa merece ser feliz e eu sou o unico que a pode fazer sorrir. Ou será que não?
Caio atirou um euro para cimna da mêsa e abandonou a esplanada sem esperar troco. Apetecia-lhe chorar bastante, gritar o suficiente e corrêr....Isso, apetecia-lhe corrêr, não importava para onde, apenas corrêr!
Respondendo ao pelo do seu corpo, aumentou a passada e segundos depois corria com toda a força que conseguia, esquivando-se dos transeuntes que circulavam a apreciar um domingo de sol.
Não sabia para onde ia, nem porque corria, apenas sentia que o tinha de fazer!
Sentia os raios solares a incidirem-lhe no rosto, sentia as primeiras vagas de suor a escorrer-lhe na face. Como molas de articulação rápida as pernas reagiam ao seu frenético ritmo, cada vez mais rápido, cada vez mais intenso, não pensar, não raciocinar, só corrêr!
O coração batia-lhe no peito, como um louco tambôr, os seus músculos esticavam em toda a sua violência e então, no meio de tanta adrenalina viu a luz.
Sorriu de felicidade  e percebeu onde as suas pernas o levaram. Estava perto da casa de Guilherme. Estugou o passo, regulando a respiração e sorriu.
A unica forma de ele não duvidar do video é pensar que realmente eu o tenho!
Com as costas da mão direita limpou a testa, sacudindo a mão posteriormente nas calças. Irrompeu pelo átrio da casa e premiu obstinadamente a campainha:
-Bom dia Guilherme!
-passa-se algo?
-Tudo.
-Espera, vou aí.
Aguardou com impaciência os minutos que ele demorou a descer e quando finalmente pôde falar, parecia uma metralhadora:
-Gui, o estupido do gajo foi lá a casa ameaçar-me. Acreditas nisto? Na minha própria casa e o pior é que se fez amnigo dos meus pais e estes, na boa, alinharam com ele. Se ouvisses o monte de mentiras que ele diusse e eles na boa, a ouvirem-no como se fosse um presidente da républica, o canalha...
-Espera, vai mais devagar. Quem esteve lá?
-O padrasto da Marisa.
-Eia!
-O que ele queria?
-O que achas que queria? Que eu deixe a miuda em paz!
-Pois, eu tambem acho que ...
-Guilherme, pá tens de estar comigo nisto. Só te tenho a ti!
Guilherme encheu o peito de ar orgulhoso, para de seguida como que atingindo o alcance das palavras, disparar:
-Mas tu vais enfrentá-lo?
-Claro!
-caio, ouve.-me bem. A Marisa é menor, ele é para todos os efeitos o padrasto dela, é adulto e a polícia vai aceitar tudo que ele diga. Essa guerra não podes vencêr!
-Gui, não precisop de a vencêr. Esse era o meu erro de à pouco. Não preciso de o vencer, basta ganhar tempo até desaparecer com Marisa.
-E como pensas fazer isso?
-Ainda tens aquela máquina de filmar que levavas para o Futsal?
-Claro.
-Preciso que me filmes...
-Ah?
-Deixa-me entrrar, vamos fazer um home movie no teu quarto, uma declaração para a posterioridade.
O amigo encolheu os ombros e seguiu-o sem pestanejar. Conhecia esta vertente de caio, do seu heroi, do seu amigo de infância. Tentara em vão copiar-lhe os modos e os gestos, tentara em vão ser como ele, agora limitava-se a ser o braço direito dele. 
Não era só carisma que ele tinha era aquelha centelha de vida, aquela vontade de emendar o errado, de querer fazer o certo. No fundo ele nascera para ser líder!
Sentado calmamente no rebordo do colchão, impecávelmente escondido sob uma manta branca, esperou a luz vermelha acima da lente e começou:


Marisa,hoje é domingo, e estou a dois dias de fugir para sempre contigo.
Resolvi filmar este pequeno video para te mostrar o quanto desejo que a minha vida seja ao teu lado.
Quero contudo que saibas que jamais vou perder essa chance e inevitávelmente um dia o destino nos contemplará com esse fim.
Mas porque tudo tem uma explicação, preciso de te dar a conhecer que hoje o teu padrasto resolveu fazer uma visita de cortesia à minha casa e ameaçou-me.
Não preciso te explicar como ele pode ser ameaçador, mas sinto que o tempo realmente escoa e não poderemos cometer erros.
Por esse motivo, este talvez seja o meu salvo-conduto para um dia me assegurar que te possa voltar a ter. É importante que percebas, no entanto a imensidão do problema que temos entre as mãos.
Nicolas tem o teu Toshiba vigiado 24 horas por dia e talvez até mesmo o teu telemóvel, e não é de agora, é de há bastante tempo.
Começo a ter suspeitas se não foi ele quem circulou o teu video na turma, mas claro não tenho provas.
Isto tudo pode ser em vão, mas penso que devias saber que o meu amor por ti é genuino, intenso e unico. Não sei ao certo qual a intensidade do teu, mas é exactamente essa incógnita que me faz avançar.
Amo-te Marisa e até já!.




Tentando engolir uma lágrima que lhe escorria numa carícia deslizante pelo canto do lábio, Caio intruiu:
-Agora Gui, preciso que mandes um mail a Marisa, com um video falso. Algo que não seja possível abrir, pede soluções sobre isso ao J.P., diz que eu pago bem. A ideia é que ele veja o mail e pense que se trata de um viudeo.
-Ok. Mas e este?
-Esse, serás tu a entregar a Marisa na Quarta-Feira!
->Quarta-Feira? Mas não é Terça a fuga?
Caio sorriu ao de leve, tentando esconder um pouco de nervosismo:
-Por isso mesmo!

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