terça-feira, 16 de agosto de 2011

Infidelius - Parte II - Capitulo 1




Vem correndo agora
vem te perder em mim
calar esta dor que em mim mora
é o grito da saudade infinita, sim - danyfilipa
http://emjeitodeescritaportugal.wordpress.com/2011/06/02/grito-de-saudade-de-dany-filipa/


Os dois zumbidos do despertador arrancaram-na de um sono frágil e em passos de bailarina, bem na ponta dos pés, levantou-se da cama e ficou imóvel, descalça às escuras, tentando ouvir o mais leve som do interior da casa. Tudo permanecia quieto e consultando o brelógio sabia que teria apenas uns 30 minutos até a mãe acordar. Correu desenfreadamente para o chuveiro vago e deixou a água escorrer sobre o seu corpo, em bátegas fortes de saudade, invadindo-a e lavando-a como se no fundo ela esperasse que a àgua levasse consigo os restos de uma outra Marisa. Como as cobras quando mudam de pele, pensou silenciosamente.
A rotina é um prato que se vai servindo frio, ou por vezes ténuamente aquecido sob as brasas da ilusão e no entanto ela saiu calada do banho,aguardando o sinal do despertador do quarto da mãe.
Invariávelmente à hora estipulada, o despertador soou, e ouviu de seguida os passos incertos da mãe a caminho do quarto-de-banho. Sorriu com relativa alegria e de toalha á cintura, aguardou-a expectante.
Era o dia do seu aniversário, era o primeiro dia da sua maioridade e uma vez que fôra esquecida pelo amor da sua vida, trataria de aproveitar todos os minutos que o Destino lhe ia concedendo.
A madrugada passada fôra muito violenta para ela. Como se um tornado a levantasse e a projectasse contra vários muros. Jurou sentir os seus ossos a quebrarem-se, o seu corpo cedêr, para afinal descobrir que apenas sonhara e não dormira. Havia chorado muito, desde que se sentira abandonada. Havia sofrido, mal tinha dormido e no rosto, as olheiras eram as cicatrizes do desgosto.
Por volta das quatro da manhã, fizera uma jura Universal. Jamais acreditaria em homem algum. Jamais viveria, como a doida da sua mãe, acreditando no amôr eterno e em todas essas teorias lambidas de romance de cordel.
Não, havia surgido uma nova Marisa. Havia feito o guneral apressado das velha e pouco interessante Marisa, para qual fénix renascida, aproveitar o melhor da que morrera e tranformar o pior em algo indestrutível. O seu coração,outrora vermelho e palpitante, era agora uma máquina prescisa, de um batimento regular, sem a mais fina ponta de entusiasmo, sem a mais fina ponta de remanescências de paixão e sentimentos macios.
A nova Marisa era uma mulher moderna ( sim, ela finalmente já era mulher!), que acabava de atingir a maioridade e que se preparava para usufruir desse seu dia, como se fosse o primeiro dia da sua vida.
Claro que invariávelmente teria que levar com a presença de Nicolas, mas isso, deduziu ela, era um mal menor. Um mal superficial e estava convicta de que agora que lhe havia mostrado a nova Marisa, agora que lhe havia dado a provar um pouco da sua loucura, ele se abstivesse de se aproveitar dela.
De qualquer forma, com boas ou más intenções, o seu padrasto era simultâneamente o unico homem da sua vida, ou pelo menos o unico que ainda não a havia abandonado.
Então percebeu que poderia vivêr um sonho. Um sonho feliz, nos braços do unico homem que não a abnadonaria. Nos braços do unico homem que no fundo a entendia.
Entregarse-ia a ele, mas desta vez, seria diferente. Não seria uma entrega muda, uma entrrega receosa das consequências. Seria ao invés, uma entrega total, apaixonada, livre e espontânea.
Com um sorriso franco e aberto, aproximou-se em passos curtos da mãe, que lavava os dentes:
-Mãe?
-Parabens filhota. - Brindou a progenitora com a boca cheia de pasta.
-Obrigado. Queria te pedir um favor!
-Ah sim? - Interrogou de olhar apreensivo.
-Gostava que me maquilhasses. Quye me tornasses linda, inesquecivel!
Por uns segundos julgou ter ouvido mal e então, aproximando-se indagou ao de leve:
-Que disses-te?
-Maquilhas-me?
-Mas...Lábios?
-Oh não, isso eu faço...O resto do Carnaval é que eu não sei!
Marlene riu ainda incrédula como que Marisa lhe pedia. Nunca pensara que uma miuda dada a correntes góticas, com piadas turvas sobre a femininialidade, agora de um momento para o outro, surgiua com um pedido assim:
-Mas claro que te pinto boneca....Que se passa?
-Nada, é o meu dia de anos e quero estar perfeita.
-Namorado novo? - Inquiriu sarcásticamente.
-Não. Mantenho o plano de sair com Nicolas, se tu o emprestares um bocadinho. - Sorriu piscando o olho.
-Fazes bem. Ele é ideal para te acompanhar neste dia!
-Pois, espero bem que sim.
Marlene estava radiante e dava graças a deus, por Nicolas ter abdicado de um dia de trabalho para fazer de babá de Marisa. Acreditava que isso lhe pudesse custar muito, mas era importante para ela têr uma referência masculina e uma vez que não tinha amigos, ele seria perfeito em tornar o dia dela inesquecível. Todas as mulheres merecem ter um aniversário de sonho, aos 18 anos, pensou maquinalmente.
Afinal, ela tivera-o, e havia sido o dia que conhecera a pessoa que mudaria para sempre a sua vida. Na altura, acreditava no amor verdadeiro, uno, indivisível, inquebrável, perfeito.
Hoje, dezanove anos passados, já não vivia as ilusões de um grande amor, já não vivia obcecada com o Ser Feliz ao lado de alguem especial.
Tinha em Nicolas o parceiro ideal. Não era o homem da sua vida, porque esse papel pertencia a outro, ao homem que a engravidara, mas era sem duvida alguma a unica pessoa que poderia ter sido enviada poelos anjos, para trazer alguma estabilidade à sua vida e apesar disso de um modo aparentemente surpreendente Marisa parecia inter-agir com ele como nunca inter-agira com alguem.
Sentada à sua frente, pacientemente, estática, Marisa era como uma boneca, passiva sob as suas mãos experientes.
Submeteu-se a toda esta tortura sem um grito, sem um amuo e quando acabou, desapareceu sorridente em direcção ao quarto, enquanto Marlene acabava de se arranjar.
Foi já durante o pequeno almoço, pouco depois de Nicolas se sentar perfeitamente barbeado que ela entrou na cozinha, exibindo um vestido vermelho curto, sem alça. Um vestido inesquecível:
-Marisa, esse vestido é um espanto! - Enalteceu Marlene
-É bom que seja! Afinal foi o teu Multibanco que o pagou
Nicolas sorriu de prazer e calmamente retorquiu:
-Pronta para um dia diferente?
-Sem duvida- Respondiu num sorriso rasgado - Hoje quero tudo, preciso de tudo, quero me divertir à brava, recordar o que é sorrir 24 horas sob 24 horas. No fundo hoje quero nascer, em paz com o Mundo.
Nicolas olhou-a surpreso e entre dentes, esperava que ela não tivesse acesso aos noticiários do dia. Teria que a mantêr vivamente ocupada, distraída e acima de tudo completa.
Elaborara um dia cheio de loucuras, um dia perfeito para ela. Calculara ao pormenor como a seduzir de vez e chegara à conclusão que tal tarefa, longe de ser fácil, exigia a sua constante devoção.
Demorara muito tempo a pensar no que a poderia surpreender e de certa forma Sofia, a sua secretária especial, havia-lhe fornecido o mote perfeito.
Constatava com agrado que afinal, o pensamento de Sofia sobre um dia perfeito, não estava muito longe do que Marisa idealizara.
Sim este dia ficaria na história e apesar dos ultimos acontecimentos e de não saber como ela reagiria à morte de Caio, estava disposto a deixar correr o tempo a seu favor.
Hoje ele a iria têr só para si. Hoje seria o dia há muito tempo esperado, há muito tempo anunciado, há muito tempo calculado. Hoje seria a suprema consagração de todos os anos de carícias, em que de sexo duro , nada poderia fazer a não ser tocar e beijar. Mas hoje iria ter a sua recompensa como homem.
Apesar dela ter demorado algum tempo a comer, entrou no carro, colocou o cinto e sorriu-lhe abertamente:
-Marisa, hoje o dia é nosso.
-Nicolas, hoje és apenas um homem, não és meu padrasto. És apenas um homem, maduro e experiente e eu apenas uma cobaia sedenta de desejo e àvida de novas emoções. Estou nas tuas mãos, surpreende-me!
Ele sorriu ligeirtamente e encarando-a de um modo como jamais fizera, retorquiu:
-Hoje, por ser hoje, irás ter tudo o que mereces!
-A ver vamos. Eu não sou fácil como a minha mãe. Eu sou difícil de surpreenêr. Outros tentaram... - De subidto a sua voz embargou e veio-lhe à memória o episódio do lápis na perna de Caio.
Acenando negativamente a cabeça, como se pretendesse afastar de vez esse assunto ela olhou animadamente na direcção de Nicolas e viu o carro principiar a marcha, com Marlene sorridente a acenar à entrada da porta. Mal sabia ela que acabara de entregar o ouro ao bandido.
No pátio vazio da escola, Guilherme esperava em vão a presença de Marisa, para lhe entregar aquilo que Caio lhe confidenciara. Não podia adivinhar que Marisa não iria nesse dia à escola. Não podia adivinhar que nesse dia, Marisa iria se tornar uma mulher.
Passara a noite acordado, náo sabendo o que fazer.Tinha recebido instruções precisas de não se aproximar da casa de Caio, mas toda esta situação deixava-o impotente e frustrado. Esperaria  pela uma da tarde para ver o noticiário e rezava entre dentes, que talvez nada fosse o que ele pensava. Mas a verdadee é que a Vespa não apareceu. Seria um dos planos de Caio?

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