domingo, 23 de outubro de 2011

Infidelius - Parte II - Capitulo 3 (5)



"Desentrelacei-me muitas vezes,
esmiucei o meu interior à procura
de um amor que me completasse,
de uma cura milagrosa para a incompreensão...
Mas o amor não é um penso rápido impregnado
de um anti-séptico qualquer...

Inês Dunas : " a Teoria das cordas"


 A musica suave de fundo do rádio da viatura completava o semblante distraído de Marisa, de rosto encostado na janela e olhar distante. Este era o seu dia, o dia de uma nova Era, o nascimento de uma nova Marisa. Agora, mais que nunca o passado parecia-lhe tão longe e simultâneamente tão presente.
A dicotomia de ser e não ser, ou aquilo que poderia ter sido se....Caio não tivesse fugido.
Por mais que se abstraísse, por mais que admirasse o verdadeiro esforço de Nicolas em a presentear com tudo a que uma proincesa tinha direito, nada apagava o sorriso contagiante de Caio a balançar-lhe na mente em flasher curtos.
Lêra num projecto de livro qualquer de um pseudo escritor que jamais se afirmaria no panorama literário, que a ausência de evidência é a evidência em si. Aquilo na verdade não lhe fazia muito sentido, como aliás todo o livro, mas por qualquer razão que ela não compreendia agora parecia-lhe uma verdade evidente...Sabia o que o autôr, Rogério Paulo Peixoto pretendia agora com essas palavras.
Para ela, no preciso momento em que Caio a deixara pendurada, numa artéria principal, sem se dignificara tentar contactá-la, mostrava-lhe o que sempre receava. Os homens não prestam. São lixo!
A evidência a retirar desse pensamento deveu-se em grande parte a mais uma promessa não cumprida, a mais uma vez ela ter sido colocada de lado, no preciso momento em que baixando todas as defesas possíveis, acreditava piamente na palavra de Caio. Como ele não surgiu, como ele desistiu dela, como ele a tratou como pedaço de mercadoria, assinara a vermelho o destino de ambos.
Para Marisa, nesse mesmo dia Caio morrêra. Saíra definitivamente da vida dela, de nada lhe adiantando qualquer tipo de contacto futuro. Caio era assunto arrumado, não o queria vêr mais e por mais que isso lhe doesse, nada iria fazer para reatar relações.
O pior de tudo, pensava agora com relativa amargura, é que sem o sabêr ele tambem a matou. Entregou-a de livre vontade ao seu rival. Nicolas era agora o unico dono e senhor do seu corpo.
Coçou o nariz com aparente irritação, embrenhada nas suas questões filosófico- existenciais e completou o raciocínio: Se Nicolas já tinha o seu corpo, porque diabo Caio não lhe saía da mente?
Ignorando por completo o olhar atento que Nicolas lhe deitava, respirou fundo e tentou preparar-se para o resto do dia, pois de repente já não tinha vontade de brincar às aniversariantes. De repente já não tinha vontade de Nicolas e da sua ambição de sexo total, numa qualquer cama de um hotel. De repente ~´a não tinha muita vontade de vivêr....Pelo menos não sem a presença de Caio.
Meu Deus, pensou, porque comigo as coisas têm de ser tão complicadas? Porque carga de àgua procuro sempre explicações para o inexplicável?
Com as mãos pousadas sob o volante do carro, Nicolas assistiu serenamente àquilo que ele chamava de "guerra interior Teen" e aprendera com o tempo, que não valia a pêna interromper ou opinar sobre o que quer que seja. Quando ela estivesse pronta ela falaria, ou ignoraria o resultado dos seus pensamentos.
Fosse qual fosse o resultado, o mais certo seria ela estar a pensar no rapaz que "voara" pelo Mirante.
Com agrado Nicolas escondeu um sorriso fortuito e tamborilando os dedos no volante pensou na sorte que havia tido ao longo da sua vida.
Nunca fôra própriamente um indíviduo com grandes estudos, nunca tivera grande sorte na vida escolar e académica, mas fez com distinção a Universidade da Vida e aí sim foi exemplar.
Apendera tudo com um grande professor e fôra sempre um discípulo atento e quando percebeu que já suplantava o mestre, deu o golpe final.
Em Portugal as coisas tambem não tinham corrido mal! De uma forma inexplicável, encontrara Portugal pouco preparado para a detecção de fraudes e os seus habitantes eram facilmente ludibriados.
Sempre havia sido muito inteligente a apagar os rastos até si e irónicamente o unico grande desafio que enfrentou deveu-se à persistência de um puto chato, que sonhara um dia em lhe roubar o seu mais grandioso trabalho : Marisa.
Deitou um rápido olhar aos seios da jovem, tão firmes e duros, por trás do vestido, passou diligentemente a mão pela sua perna nua, subindo ligeiramente a aba do vestido.
Marisa, o seu maior segredo e simultaneamente a sua maior criação.
Agora que com um golpe de sorte se livrara do miudo, sem atrair atenções sobre si. Agora que evitava a todo o custo as emissoras de rádio com noticiários, com receio que a morte do puto desse nas notícias e alarmasse Marisa, ele era dono e senhor da situação.
Já tinha a mãe sob os seus braços. A quente Marlene de pernas lânguidas e lábios de ouro, conseguira igualemente seduzir a filha, e nos intervalos violara Sofia.
Soltou novo sorriso e concentrou-se mentalmente na ovem que havia recrutado para sua secretária. Se de início ela nada despertava em si, desde a violação que percebêra que ela poderia ser uma optima aliada no seu jogo erótico.
Aliástinha sido com a sua preciosa ajuda que ee havia preparado este dia. Na verdade tinha sido tarefa de Sofia a marcação do restaurante, a marcação do hotel, bem como a marcação da surpresa seguinte.
Ciente que todas as jovens têm uma queda por tatuagens, Caio esperava desta forma não só seduzir ainda mais a sua falsa filha, como deixar uma marca deste dia no seu corpo tão jovem. Uma marca que o tempo nunca apagaria e que para sempre a lembraria a quem ela pertence.
Obviamente que como adolescente que era, ela apenas precisava de pensar que a ideia da tatuagem seria dela, ele apenas precisava de a encaminhar mentalmente para esse desejo:
-Onde vamos? - Perguntou ela como que  despertando de um transe.
-Bem eu tenho de fazer uma paragem rápida numa loja, em negócios, mas são dois minutos.
-Uma loja?
-Oui.
-Ah e são mesmo dois minutos?
-Oui.
-Mas a loja é de quê?
Nicolas segurou o sorriso diante da certeza que ela engolira o isco:
-Oh, uma porcaria. Uma loja de tatuagens. Coisas horríveis que os jovens agora fazedm à pele.
De subito os olhos de Marisa brilharam e então indagou:
-Será que podia fazer? Marcaria uma frase unica.
-Ah sim?
-O meu amor morreu!
Apanhado de surpresa,como se até aí estivesse a dormir a cordasse de repente, Nicolas, rodou a direcção da viatura para a berma, acendeu os 4 piscas e olhando para ela, de um modo descrente, conferiu:
-Que morreu?
-O meu amor. - Respondeu ela baralhada com a atitude de Nicolas.
-Como assim?
-Não quero falar disso.
E então na cabeça de Nicolas, surgiu pela primeira vez nesse dia o receio, o mêdo, a verdadeira duvida. Saberia Marisa do acidente de Mota? Seria aquela a forma de lhe dizer que ela sabia de algo? A vontade de sorrir subitamente desapareceu-lhe do rosto.

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