domingo, 23 de outubro de 2011

Infidelius - Parte II - Capitulo 3 (7)




Covardemente vivi escondido
Com uma ideia no pensamento
Pensa em mim, age agora
Enquanto é hora!
Hugo F. Gonçalves " Dor de Mim"

Como um mau prenúncio, a chuva miudinha estalava na janela, ameaçando ainda mais o fim da tarde estival indiferente às atribulações que se viviam no pequeno gabinete.
Após algumas palmadas na face e uma generosa dose de água com açucar, Marlene recuperava agora lentamente os sentidos e lentamente tentava descortinar por entre a ainda persistente névoa do seu olhar o rosto de quem a acudia.
Impávido o inspector Belga aguardou que ela recuperasse a sua côr original e vendo-a mais bem disposta apressou-se a desculpar:
-Receio ter sido demasiado brusco para si Madame. Não pretendia de todo criar-lhe uma má disposição.
-Não tem importância, foram os nervos. Desculpe.
-Mas não precisa de pedir desculpa.
Repentinamente Marlene apercebeu-se que não estavam sozinhos na sala. Durante o tempo que estivera desmaiado um novo casal juntara-se ao inspector e atónita ela tentava em vão identificar o casal:
-Perdão se pode ser abusivo da minha parte, mas convidei estes senhores a estarem aqui presentes.
-Aqui? Mas isto é o meu local de trabalho...
-Sim eu sei.Já falaremos sobre isso
-Como se atreve...
-Perdão dona Marlene, creio que o que o inspector quiz dizer é que face aos assuntos que temos para falar, só poderia ser aqui que esta reunião teria lugar.
Na verdade ela não percebia nada do que se passava. Aliás, a sua mente entrara em colapso desde que desmaiara e recusava-se terminantemente a raciocinar:
-Muito bem, sou toda ouvidos.
-Como lhe disse , aquele a quem chama de Nicolas é procurado na Bélgica por molestar menores.
-Correcto, essa parte já percebi.
-Mas é igualmemte procurado por fraudes e pequenos golpes.
-Ah sim?
O inspector sorriu diante do falso ar de desprezo de Marlene:
-Madame Marlene, quem é o seu patrão?
-O meu patrão? O senhor Vítor Tavares.
-Não, não me refirou ao gerente. Refiro-me a quem lhe passa os cheques!
-Oh, o senhor James Manfield da Mansfield & Sons, um médico...
-Não... O seu patrão é o Nicolas.
-Como?
-Recorde-se da primeira vez que o viu...
-Sim.
-Da entrevista com esse Vítor...
-Sim, foi muito rápida na verdade.
Jerome esperou que ela absorvesse a informação:
-Qual era a sua ultima tarefa durante o expediente?
-Oh, enviar um relatório pontualmente às 18 horas. O senhor Mansfield era muito rigoroso...
-Por Mail?
-Correcto.
-O que significava que nunca, jamais em tempo algum poderia estar em casa antes dessa hora.
-Sim. - Respondeu ela estranhando a pergunta.
-A que horas estava Nicolas em casa?
-Á mesma hora que Marisa e....Oh meu deus.
-Precisamente. Tinha duas horas e meia com ela. Todos os dias.
Marlene começou asentir uma vontade enorme de vomitar. Sentia o seu estômago às voltas, sentia o seu coração a bater tão desconcertadamente.
-Madame, este jovem aqui, vamos tratá-lo po J.P., é especialista em informática e a meu pedido invadiu o vosso sistema e consegiu isto...
Num sinal de Jerome, o jovem virou o seu computador portátil para Marlene e mostrou a caixa de email do pseudo patrão, onde se encontravam todos os relatórios enviados por ela, ainda por abrir.
-Ele nunca precisou de abrir, pois só lhe interessava que você os enviasse e contratara esse Vítor para a manter ocupada.
-Entendo. - Respondeu Marlene numa voz derrotada.
A rapariga que a acalmara à poucos momentos voltou a falar:
-Não me conhece, mas eu sou secretária de Nicola há já um ano e todos os dias, ele fecha-se no gabinete, saindo por vezes transtornado. Um dia por mero acaso descobri que era a sua filha que ele vigiava no PC dele.
-Mas porque estão-me a dizer isso a mim? Deviam era ter contado à policia.
-Mas Madame, eun sou polícia - Mentiu Jerome.
-Mas é Belga.
-Precisamente. Tudo o que temos são suposições. Não havendo denuncia não podemos fazer nada. A menos que haja flagrante delito.
-Bom, mas se nós estamos aqui e não numa esquadra é porque o inspector tem algum plano.
Jerome sorriu e batendo as palmas numa unica salva, exprimeiu o seu contentamenteo:
-Até que enfim que consegue raciocinar Madame. É isso mesmo!
-Desculpem, mas ainda tenho as minhas reservas, não duvido que Nicolas possa ter errado lá fora, mas com Marisa...não sei, è meio irreal.
-Dona Marlene, Nicolas pediu-me para reservar um Motel PARA DUAS PESSOAS, HOJE.
Como o estalar de um chicote em carne tostada pelo sol, a dor que Marlene teve naquele momento cortou-lhe o peito e teve dificuldade em respirar.
-Por isso Madame, precisamos de si nesta parte da questão.
-Como assim?
-Precisamos que provoque a vontade da polícia daqui em promovêr o flasgrante delito.
-Mas basta ligar...
-Mais nom, Madame. Se ligarmos a sua filha tambem será dita. Temos de fazer parecer que ela foi contrariada.
-Mas o que diz? Claro que ela foi contrariada
- Eu não sei, madame. Só suponho.
Num acesso de repentismo, Marlene proferiu:
-Muito bem, ouçamos o seu plano.
Demoradamente Jerome esclareceu todo o seu plano, todas os pequenos pormenores do seu minucioso plano, que havia sido colocado há um ano atrás com a contratação de J.P. e depois por coincidência, com a constatação de J.P. que a sua própria familiar trabalhava com Nicolas.
Há sempre uma feliz coincidência em qualquer plano perfeito.

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