terça-feira, 25 de outubro de 2011

Infidelius - Parte II - Capitulo 6




Geme o coração insolente
pertença de alma doente
geração em geração
e quem me chama à razão?

 http://rabiscosdealma.blogspot.com/2011/05/na-imensidao-de-um-afago.html


O fim da tarde, a despedida de mais um dia. Para muitos apenas o findar de uma rotina há muito enraizada, para outros apenas o desfilar de cansaço, frustrações e duvidas pouco escondidas.
O Ser Humano, rende-se à evidência de que tudo é fugaz, que tudo é passageiro, que tudo é aleatório e no fundo sabe, que mais cedo ou mais tarde, irá lhe ser concedida a possibilidade de escolher. É nesses preciosos momentos, que o racional e o irracional se debatem, numa feroz guerra oculta dos restantes sentidos, que o Ser Humano indubitávelmente terá que escolher!
A preciosidade da escolha é então um momento unico. Por mais desculpas que se lhe apresente, por mais teoremas racionais que elabore, só há um factor a ter em conta. Apenas um. O lado intuitivo. No fim, é ele que se sobreporá ao racional e que resolverá o dilema.
Tratando-se de Angélica. o lado intuitivo principiava a ganhar a sua batalha interior.
A detective partira resoluta do gabinete para confrontar as suas dúvidas, para esclarecer o seu lado racional, na confrontação de um dado novo no tabuleiro de jogo.
Agindo por instinto, numa clara alusão ao sexto sentido feminino, amorfanhou a folha de papel A4 com a verdadeira fotografia do inspector Belga que supostamente viria para os auxiliar e que invariávelmente em nada correspondia à fugura do sujeito baixo, petulant, mas contudo metódico.
Quando entrou no seu Mazda descaracterizado, com a folha na mão, o seu sentido lógico e ético apelavam para que ela confrontasse e desmascarasse o impostor.
Claro que ela arrancou decidida a isso, esperando inclusivamente o poder fazer na presença do seu superior e conquistar mais um capital de confiança para o seu ranking....
Sim, seria o mais lógico! Então porque diabo estou aqui estacionada em frente ao mirante?, pensou ela enquanto abandonava a viatura.
Com efeito, apesar de ela não ter estudado medicina, ou possuir qualquer conhecimento ciêntifico na áre da psicanálise,sabia perfeitamente que o seu cérebro era especial. Desde muito miuda que aprendera a se focar no essencial, desde a sua tenra idade que era difícilalguem a conseguir enganar. Recordava-se agora, enquanto comprava uma cerveja no café em frente ao Mirante, da sua insatisfação para com os numeros de circo. Ao fim de minutos ela conseguia perceber facilmente como os numeros de magia eram feitos e sentia-se sempre vazia, como se fosse suposto alguem ter prazer em ser enganado.
Ela odiava ser enganada e por coincidência, várias pessoas continuavam a tentar enganá-la. Começou no pai, a tentar desviá-la da polícia, passou pelo namorado que ao fim de dois anos, acabou na cama da melhor amiga dela, e agora este pequeno Belga. Porque a tomam sempre por estúpida? Interrogou-se com amargura.
Sentada de costas para o mar, que castigava violentamente a encosta granítica, fechou os olhos de forma a evitar os olhares lânguidos que dois homens de mau aspecto, sentados na esplanada lhe dirigiam,e determinada a não se desviar do seu propósito, concetrou-se no som do mar apenas, procurando em si uma explicação para a sua presença ali.
Ela sabia que agira por impulso, dado que era muito pouco provável que o sujeito Belga andasse por estes lados, então o que a levara ali? Porque fizera um desvio casual de 3 kms em relação ao seu destino.
Claro, pensou ela de pronto, o Caio!
Incrível como julgamos estar a pensar em algo e na verdade o cérebro processa uma outra informação. Assim como se funcionasse pela calada, assim como se esperasse não ser incomodado. Se o cérebro pudesse falar, naquele preciso momento diria..." Isso pá, entretem-te com o Belga,enquanto analiso este relatório e tapo o buraco...". Sim, era isso, pensou ela dando um generoso gole pelo gargalo da Sagres, o cérebro tem a imensa faculdade de separar o superficial do importante. Quantas vezes a meio da noite sonhamos com fragmentos dispersos e quando acordamos, achamos que eram perfeita tolice?
Sobre isso ela tinha uma teoria interessante. Para ela os são a forma de o cérebro, se livrar da informação que não consegue armazenar em gavetas na mente. Tudo aquilo que o cérebro não precise, elimina através do sonho e talvez seja por isso que na maior parte das vezes nem nos recordamos que sonhamos.
Não seria fantástico se pudessemos gravar os nossos sonhos num DVD para ver mais tarde?
Abriu os olhos alarmada consigo mesma, mais uma mvez a sua mente pregara-lhe uma partida. Por qualquer razão, a sua mente levara-a mais uma vez a divagar sobre sonhos afastando-a do seu pensamento original: Caio.
Respirando fundo, esfregando os olhos com a palma da mão direita, voltou a Caio: Ela lera o relatório do seu acidente, ali mesmo naquele local, ela apercebera-se de algo, até cismar com o Belga...Ela apercebera-se de algo...No relatório...Algo que lhe escapara, mas o seu cérebro trabalhava nesse "buraco", algo que faltava...Concentrou-se durante vinte minutos, pesquizando na sua mente o relatório que hábilmente memorizara. Linha por linha, palavra por palavra, o relatório corria na sua mente, como se ela estivesse a lêr agora. Caramba, o que me está a escapar?
Ao fim de uns minutos, desistiu e explodiu num acesso de raiva, praguejando num tom bem audível e inconscientemente atirou a garrafa vazia de cerveja para o mar.Quando se arrependeu, já a garrafa ia a caminho, até batêr violentamente na àgua azul, produzindo um som característico. Um  splach vigoroso e audível. Se ela tivesse ao menos deixado cair a garrafa na vertical, a garrafa caíria sobre as rochas ou com sorte sobre a areia, pois a maré estava a vazar.
Olhou sériamente para o sítio onde a garrafa tinha caído e de subito as suas iris alargaram e um sorriso estalou-lhe no rosto.
Recordou mais uma vez o relatório: Duas testemunhas, Caio despista-se bate com as costas na amurada onde ela estava sentada e cai....Mas uma das testemunhas estava perto e em lado nenhum do relatório alguem afirma tê-lo visto a cair ao mar. Todos em uníssono afirmam que ele caiu, mas ninguem o viu realmente cair à agua.
Angélica consultou o seu relógio de pulso, eram sensívelmente as mesmas horas aquando do despiste e reagindo por impulso, passou as pernas para o outro lado e deixou-se cair.
Apressadamente os dois homens, vendo-a cair, precipitaram-se para a amurada e ao cair, ela desejou ter um controle remoto que lhe permitisse premir o botão e a devolvesse à amuirada segundos antes da tolice que havia feito.
Angélica sentiu a pancada no seu ombro esuqredo da saliência rochosa, para imediatamente ser sugada por uma corrente imensamente forte, que a arrastava bem para o fundo do mar.
Nunca ela julgou que àquela hora a corrente fosse tão demoniáca! O seu ombro doía-lhe ferozmente, não sentia a perna esquerda e o peso da roupa molhada funcionava como uma pesada âncora.
De todas as ideias repentinas que tivera, este mergulho despropositado fôra sem duvida a sua ideia mais infeliz.
Esbracejando ferozmente, Angélica tentava atingir a superfície e recuperar algum ar, mas teimosamente a corrente arrastava-a e empurrava-a. Quanto mais ela tentava, mais era sugada, quanto mais energia dispendia, mais cansada ficava e gradualmente foi-se deixando ir.
No fundo, pensava ela, tivera bastante sorte em ter batido com o ombro, se tivesse batido com a cabeça...
Os olhos fechavam-se e o peito, reagindo à falta de ar parecia uma caldeira prestes a explodir. O coração parecia-lhe ter subido até à boca.
É o fim, pensou e deixou de lutar e entregou-se ao mar assasíno , soltando as ultimas bolhas de ar e...adormeceu.

Se ela tivesse aguentado um pouco mais, talvez mais três minutos desperta, veria com bom grado que o mar a tinha atirado até as rochas, mantendo milagrosamente a sua cabeça fora da água, até que dois braços fortes a resgataram para fora do mar.
Mas ela, isso já não viu e pela primeira vez a sua mente estava inactiva.

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