segunda-feira, 16 de março de 2015

SOMETHING SIMPLE!




O Mundo podia ser de papel, moldável, pronto a amarrotar, a rasgar, a recortar...a desfazer em mil pedaços, na solicitude da cólera momentânea, lá no canto onde a razão já não mora.
Sendo o Mundo de papel, podíamos sacudir, soprar, entornar as pequenas criaturas que pululam, como pontos de reticência que não só incomodam como em nada acrescentam...Pontos...Pequenos pontos sem vigor, sem expressão, sem força rítmica...Pontos apenas.
Os outros que restassem, nessas folhas de papel ainda imaculado, ainda branco, ainda lúcidos, seriam contextualizados em excertos de frases, de palavras, de letras de músicas, de orações, umas subordinadas, outras subordinantes. Uma hierarquia mística desenhada a carvão pela mão de um criador que não aceitava um traço imperfeito, ou incaracterístico..

PAPEL....PONTOS...FRASES...

A a arte de habitar e permanecer nesse papel seria a essência construtiva do nosso Destino. Seriamos apenas sobressaltados por alguns pontos e vírgulas, aqui e ali monetâneos, Outros seriam avisados por dois pontos, travessão e lá tínhamos o diálogo fluído, sem estarmos subordinados a linhas invisíveis de pequenos muros como a família,a religião e a política.

MUNDO PERFEITO  E SIMPLES, SE O EXISTISSE TINHA DE SER DE PAPEL.

Duraria o tempo que duraria, sujeito ás intempéries, ao fogo dos nossos erros, á vicissitude de uma tesoura alheia, ao sarcasmo de um rasgão ou tão somente à tirania do criador que nos devolveria à não existência.

JUNTANDO AS FOLHAS E FOLHAS E MAIS FOLHAS, A CRIAÇÃO POR FIM!

No passo seguinte da criação do Mundo em papel, juntar-se-ia folhas e mais folhas. Folhas escritas, pintadas e sarrabiscadas ao acaso, com cuspe ou cola, com agrafos ou clips. Bíblia de pureza de resmas de folhas, sem qualquer ordenação, sem qualquer lógica, razão ou sentido. Folhas lambidas nas pontas e coladas ao sabor do acaso, sem primo, neta ou enteado. Tudo tão vago, tudo tão misturado.

NADA CATALOGADO, O ERRO DO ACASO!

Não haveria fim, as primeiras folhas iam amarelando e contudo iam durando na eternidade do zelo de quem compilava. A5, A4, risca ao meio ao quadrado, pautado, de linhas em branco, quadriculadas com letras a sair dos quadrículos,sem ordem, sem arte, sem engenho.

O GRANDE LIVRO DA VIDA NUM MUNDO PERFEITO?

Tudo seria simples, sem obrigações, sem devoções, sem tentações, sem alienações, sem razões, sem moralismos, sem racionalismos, sem credos, procissões, sem tostões, sem perdões, sem regras....Contudo nunca seria com tudo, mas sem nada. Nada a haver, nada a ver apenas deixar ir, vir, sem sorrir.
Um boneco animado, estático, sem estar alucinado, despejado na ponta do pincel, como cinzel,sem cordel, sem animação, mas vivo na memória de quem via, embora não amiúde.

E no entanto, nada tão simples podia um dia acontecer, pois falta o elementar

Mesmo a mais pequena criação precisa de existência corpórea, assim sendo faltaria o essencial para este Mundo ganhar força...



FALTARIAM AS ÁRVORES!

1 comentário:

  1. Tão bom! Fez-me lembrar o "Imagine" do John Lennon...
    E o maravilhoso é que no fundo somos mesmo folhas de papel, ora compiladas, ora perdidas por alguém, a contar a nossa história!
    Adoro tu!!
    Adoro ler-te!

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