terça-feira, 1 de setembro de 2015

A Saga de Arkhan - Pretorius - Capítulo 1




Os lamentos são canções que se ouvem ao longe,
mas hoje são os sonhos que mandam!

Inês Dunas : Para além da Morte
http://librisscriptaest.blogspot.pt/2015/08/para-alem-da-morte.html


O Sonho



O final da manhã desaparecia sonolento em salpicos de sol, recortados pelas nuvens cinzentas que cobriam aquela parte de Arkhan, quando em trote cerimonial, a cavalaria do segundo batalhão, acompanhava os passos triunfantes da infantaria e do ribombar dos tambores, sendo precedidos do ruído majestoso dos portões de Orgut a abrirem-se para receberem os seus heróis. 
Exactamente doze dias após terem partido, o general Vill dava por concluída a sua conquista da fortificação de Boren e aguardava com elevada expectativa a recepção dos seus homens pelo povo de Orgut,  Nas suas primeiras vitórias o povo que estava sedento de glória e cumpria com ânsia o sonho do seu soberano de alargar as fronteiras do Império e poder ter acesso a novas terras e oportunidades, recebia efusivamente a comitiva vitoriosa, mas ultimamente o general apercebera-se de alguma insatisfação no Império,motivada pela fome e pela escassez de cereais.As pilhagens não eram suficientes e todas as moedas de cobre e ouro eram derretidas para armamento ou para uso no castelo de Bradus, o invencível.
Sob a imagem do imponente castelo, circundado pelas grossas e altas muralhas de pedra, o exército entrou em direcção à praça central e para desgosto do general, o rei não se encontrava na ameia do castelo, nem tão pouco havia uma tribuna de honra como era habitual em anos anteriores. Pelo canto do olho, Vill notou a mesma apreensão no rosto dos seus homens e no entanto, assumiu a sua posição de líder, fingindo ignorar as poucas pessoas que os saudavam. 
Desceu do seu cavalo, recolheu as luvas brancas de gala e prontamente dirigiu-se ao interior do castelo, sendo certo que o seu soberano o aguardaria.

No interior do castelo e enquanto esfregava a irregular barba outrora densa e castanha, contemplava com nítido orgulho o longo mapa de Arkhan,e com um sorriso aberto recuou alguns passos para melhor distinguir as marcas do seu Império. Ravelis, Samerti, Borren, três das mais importantes localidades de Arkhan sucumbiram sob o seu comando e eram agora colónias de Orgut.
Bradus bateu palmas como se estivesse a presenciar algum número cómico dos bobos, e teatralmente sentou-se na pequena cadeira madeira, balançando o corpo, como se aguardasse que o mapa lhe dirigisse a palavra. Contudo o silêncio dentro da pequena sala fria do castelo era demasiado pesado para acompanhar tais efusivas manifestações de alegria e sem demora acercou-se de novo do mapa e desta vez fez questão de ir colocando o dedo sob as suas conquistas. 
Vinte anos se passaram desde que deu início ao seu sonho Imperial. Não só conseguiu unir os clãs dispersos na província de Orguen, como convenceu Traius, o chefe do clã rival de Utten a cimentar uma aliança e a conjugar forças para melhor defenderem o seu território. Claro que foi sem remorsos que ao fim de meio ano e após reforçar as fileiras do seu exército com os melhores cavaleiros da região que Bradus mandou assassinar o seu "parceiro" e assim fundir os dois clãs mais importantes e renomear o princípio do seu reino como Orgut.
Agora,Orgut era temido em toda a Arkhan, e o seu nome sussurrado às crianças à noite, como um bicho ou monstro que as viria buscar um dia. Tal era em parte verdade, pois o seu exército precisava de homens e as crianças em breve seriam homens e como tal  precisavam de "beber" a doutrina de Orgut, os seus usos e costumes, as suas crenças, enfim o que ele chamava de educação solene.
Com um suspiro, Bradus serviu-se de uma taça de vinho e piscou o olho ao próximo alvo do seu mapa....Ischtfall, reino sem castelo, mas com um palácio triste e pouco dignificante, sem grande exército, comandado por um rei tolo, amigo do povo, da ralé, sempre preocupado com as monções, os frios e a comida. Bradus soltou um riso audível em todo o castelo e atirou o copo contra o mapa, limpando desajeitadamente a boca ao seu manto e sem perder mais tempo, abandonou a sala com a firme ideia de se inteirar dos preparativos da invasão a Ischtfall.
Na grande sala oval do castelo, os dois generais aguardavam com relativa impaciência a chegada do soberano. Brunnus e Vill, um Orgen de nascença e um Utten  eram o espelho do sonho de Bradus e daquilo que ele pretendia para o reino. Eram brilhantes estrategas e tinham a aura de invencíveis que tanto agradava ao rei, como ele mesmo demonstrou assim que entrou na sala, ladeado pelo seu concelheiro:
-Ah, cá estão os meus grandes generais.- Acercando-se de Vill deu-lhe uma informal palmada no ombro, adiantando - Creio que Borren não lhe tenha dado mazelas?
-Não meu rei. Caiu em apenas um dia! - Respondeu o alto e jovem general orgulhosamente.
-Perfeito...Baixas?
-Entre mortos e feridos, estimamos em cerca de vinte baixas. Infantaria sobretudo.
-Vinte?
-Borren tinha bons arqueiros, majestade!
O rei acenou positivamente com a cabeça, enquanto estudava o rosto fechado de Brunnus, por norma o mais taciturno dos seus homens:
-General Brunnus, denoto alguma preocupação. Acaso tendes algo a dizer?
-Sobre Borrenm senhor?
-Obviamente.... - respondeu o conselheiro apreensivamente.
-De todo meu senhor. Foi uma importante conquista para o império...
-Mas? - Interrompeu o rei.
-Nada a apontar majestade. - Anuiu o general de ombros largos.
Bradus afastou-se ligeiramente dos homens, enquanto aguardava que o conselheiro espalmasse o mapa castanho na pesada mesa e sem esperar que os presentes se acercassem da mesa, sentou-se à cabeceira da mesma e deu ordens ao conselheiro para principiar  a narrar o seu plano:
-Atacaremos Ischtfall dentro de seis dias e quero os dois presentes...Vill, levarás o teu exército pelo Norte e acamparás antes dos pântanos. Se por acaso forem vistos por batedores da região, estes ficarão na dúvida se avançaremos até Ischtfall ou Bratter.
-Entendo senhor.
-Brunnus, os teus cem homens avançarão até ao limite da Floresta Negra, onde acamparão e aguardarão novas ordens.
-Novas ordens? - Retorquiu o general impaciente.
-Sim. Não creio que Vill tenha dificuldades em tomar Ischtfall.
-Mas então avançarei sozinho?
-Assim que me juntar a vocês. - Bradou o rei entusiasmado.
-Majestade....Que dizeis? - Brunnus estava perfeitamente atónito.
-Obviamente levarei a minha escolta pessoal.Quero que o louco de Leopoldo me veja a entrar vitorioso no seu palácio de brincar.
-Mas senhor, pode ser perigoso... - Avisou Vill 
O rei ergueu-se colericamente atirando com as pernas a cadeira ao solo:
-E dizeis isso a mim? Eu que combati apenas com uma espada e um escudo? Eu que comandei camponeses e enfrentei no terreno guerreiros hábeis com espadas?
-Perdão majestade, mas apenas asseguro que ....
-Um enorme reino, uma única língua, um único povo - Gritou o rei, dando fortes palmadas na mesa perante o olhar atrapalhado do seu general. - Como pode tal sonho ser difícil de entender aos meus homens?
Os dois generais trocaram olhares apreensivos e nenhum deles teve a coragem de argumentar. Afinal eles dependiam das guerras e do Status que daí provinha na comunidade.
-Como estava a dizer, somos melhor treinados, melhores soldados, melhores homens que os camponeses de Ischtfall e procederemos como sempre. Rei morto, rei posto....
-Quem tendes em mente para governar sob o seu comando, majestade? - Inquiriu um nervoso Brunnus.
O rei ergueu-se pacientemente, como se desde o início aguardasse essa pergunta e abrindo um sorriso sincero, confirmou:
-Porque acha que o convoquei para esta missão?...O rei procedeu a uma curta pausa teatral, trocando sorrisos cúmplices com o seu conselheiro e retomou a questão que se mantivera no ar- Para que o meu caro possa tomar o reino de Ischtfall sob seu comando e impor a nossa ordem aos campónios aquando da nossa partida.
Ao contrário do que seria expectável, Brunnus não exteriorizou qualquer sinal de satisfação, regozijo ou orgulho, apenas encolheu os ombros e esforçou-se para esconder o seu olhar de apreensão. Como poderia ele explicar ao seu soberano que não nascera para governar um reino fantasma ou ser pau mandado de Orgut. O seu lugar era no centro do Império, perto do seu rei e especialmente da sua rainha, de quem tanto gostava, em segredo.

1 comentário:

  1. Ena, ena, enaaaaaaaaaaaaaaaa!!!
    Até sinto borboletas na barriga, caraças!!
    Que saudades desta gente toda, de te ler, destses (teus) mundos!!
    beijocas em ti!
    Fico aqui, sentadinha, à espera de mais!!!
    :P

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