segunda-feira, 7 de setembro de 2015

A Saga de Arkhan - Pretorius - Capítulo 3 - Parte 2



Pinto o rosto de guerra,
uma vez mais, acordo o soldado adormecido,
ferido por batalhas mas erguido nas falhas alheias!

Inês Dunas :(Cruz)Adas...
http://librisscriptaest.blogspot.pt/2012/06/cruzadas.html



De Ferreiro a imperador
(parte 2)



Quando  Bradus ouviu a convocatória forçada da boca do chefe do seu clã, para participar em mais uma batalha contra Utter, achou que o carácter obrigatório e geral seria apenas uma liberdade linguística, tantas vezes presente no espírito espalhafatoso e guerreiro do seu clã. Porém quando compreendeu que não tinha como fugir, o filho do ferreiro começou a ficar preocupado e até aterrorizado. Tinha sobrevivido até aí, sem qualquer membro partido ou qualquer outra mazela, simplesmente porque arranjava sempre forma de conseguir ficar a defender o território, que é como quem diz, entregue à sua vidinha de sempre. Bradus não tinha inclinação para o manejo de armas, era demasiado alto e esguio, característica que o tornava facilmente um alvo para os arqueiros inimigos e os seus braços magros não suportavam o impacto de uma espada ou machado no seu escudo. Ao contrário de seu pai, com braços grossos e musculados, moldados pela arte de bater ferro, era igualmente um mau ferreiro, sem grande técnica no manejo do martelo.
No penoso caminho até ao campo de batalha, situado a cerca de 1 km das duas praças rivais, Ele estudava uma forma de poder escapar à contenda da melhor maneira possível. Sabia de antemão que por não ser lanceiro ou bom guerreiro, não faria parte da linha da frente, o que o livraria das espadas inimigas, mas receava a rectaguarda, onde qualquer flecha perdida facilmente o encontraria.
Para além disso e ao contrário das forças inimigas, os guerreiros de Orguen usavam um Broquel, que não era mais que um pequeno escudo convexo, feito de madeira e coberto de couro e/ou metal, consoante a bolsa de cada um. Mal cobria o alcance visual da cabeça, tendo no entanto a particularidade de ser extremamente leve e bom para o carregar.
Depois de passar a pequena ponte de pedra, chegaram ao local, onde o inimigo já os aguardavam, dispondo de dois batalhões de infantaria.
De soslaio, o filho do ferreiro olhou para a espada que já fora de seu pai, encolheu os ombros e enquanto todos os seus compatriotas davam um passo em frente ele recuava dois, perscrutando nervosamente a área envolvente à procura dos arqueiros inimigos. A poucos metros de si, bem á sua frente Rurus, o seu líder sorria de satisfação ao perceber que contrariamente ao que seria previsível  a cavalaria Utteriana não estava presente no campo de batalha.
A planície de Lforr era na verdade uma língua de tapete verde, delineada a Norte por por árvores seculares, e a Sul pela ponte de pedra. No meio destas duas unidades de referência situava-se um tapete agora verde de cerca de oitenta metros de largura e simultaneamente o palco escolhido por Traius para essa última batalha tida entre os dois clãs rivais que ainda permaneciam a Este de Arkhan. 
O local tinha sido escolhido por Traius, chefe do clã de Utter, mais como uma provocação do que propriamente por manobra táctica, dado que o chefe esperava que marcando o confronto em solo sagrado Utteriano , onde as profetizas do seu povo realizavam em todas as primeiras luas do verão a festa da fertilidade e pedidos à boa deusa Mattur para o nascimento de muitos meninos fortes e bons para a caça. Também por essa razão, Traius não deu muita atenção aos preparativos dessa batalha, dado ser recorrente batalhas regulares entre os clãs e havia de facto muito a fazer antes da primavera chegar, pelo que se limitou a enviar somente um batalhão de cinquenta guerreiros e cerca de vinte arqueiros. Fosse como fosse Traius sabia de antemão que os Utterianos estavam melhor armados, eram melhor guerreiros e tinham forte protecção individual, desde duplas couraças peitorais,até elmos que contrastavam com a quase inexistência de protecção individual dos Orguenianos.
Porém para Rurus, o alto chefe Orgueniano, de testa larga e enormes braços, a escolha do local era a seu ver perfeita,por não dar espaço aos cavalos de Utter e assim lutariam de igual para igual.Contudo, o que o ele não sabia é que durante o nevão, vários cavalos acabaram por morrer ou ser mortos pelo clã inimigo para alimentar o seu povo, pelo que a força de cavalaria de Utter nunca se apresentaria na contenda.
As forças em confronto eram portanto desproporcionais, tendo Orguen mais homens, e Utter homens mais bem preparados.
Sob um sol tímido as duas forças iniciaram as hostilidades e poucos minutos depois os corpos tombavam no solo, e lá bem atrás do seu batalhão Bradus percebeu que esta batalha iria ser diferente e bem mais sanguinária. Sem mostrar qualquer emoção, ergueu o escudo, empunhou a espada e limitava-se a sacudi-la no ar e a gritar na tentativa de iludir os seus parceiros de guerra. 
O facto é que uma vez mais, sobrevivera a uma batalha, praticamente ileso e desta vez a roda da fortuna, o sopro dos bons deuses o colocaram numa posição única, uma oportunidade praticamente caída no colo, sem que ele tivesse feito algum plano para isso e se algo aprendera sendo um dos mais ignorados de Orguen, foi a aproveitar todas as chances que os Deuses disponibilizam.
Foi assim sem remorsos, que após retirar o líder do campo de batalha e enquanto aparentava lhe dar os primeiros socorros, empurrava continuamente a flecha para o interior, tendo o cuidado de a rodar, de forma a aumentar o sangramento. Não havia testemunhas e se as houvesse sempre pensariam que ele estava a tentar salvar o líder. Claro que exposto a tal tratamento, Rurus perdeu a consciência o que favoreceria de sobremaneira o plano do filho do ferreiro.

Sem surpresa, em Lforr( fortuna em dialecto Utteriano) o massacre tinha sido evidente e os Orguenianos sobreviventes, quando se aperceberam da ausência do seu líder, apressaram-se a bater desordenadamente em retirada, numa rendição forçada em fuga pela ponte de pedra, regressando ao seu clã e tornando a praça central de Orguen um verdadeiro manicómio de gritos e choros e acusações mútuas. 
Zvar, de curtos cabelos brancos e com enormes rugas a marcarem o seu rosto de fome, ouvindo a algazarra que vinha do exterior da sua parca habitação de madeira e abandonando o líder já cadáver, surgiu à porta e  encarou Bradus e sem perder tempo, sugeriu:
-Rurus está morto. Não aguentou a perda de sangue! Que esperas fazer agora?
Bradus mirou o ancião, conservando o seu olhar nas mãos ensaguentadas do sujeito.
-Pelos Deuses, que poderei eu fazer agora?
-Haveis sido escolhido. Tendes a obrigação e o direito de informar o vosso povo!
-Meu povo? Mas eu....Eu sou um filho de ferreiro, não acredito ser a pessoa certa para... - Mentiu Bradus recorrendo a uma das suas pausas teatrais favoritas, na ânsia de ser interrompido.
-Todos os que vos viram chegar ouviram os desejos do nosso falecido líder. Podeis não lhe ter salvo a vida, mas haveis salvo a sua honra, resgatando-o para que morresse entre os seus.
-Isso é verdade.
-Haveis feito uma jura e sabeis que a tereis de cumprir.
Como que ganhando coragem, avançou para o centro da praça e exibindo a espada ensaguentada narrou os acontecimentos, tal como os havia narrado quando chegou e para infelicidade de zvar que nunca acreditara na sua versão, não houve qualquer versão contraditória ou testemunha presencial que o desmentisse. 
Bradus dera então por si a gesticular bastante, num tom de voz carregado de falsa raiva a prometer:
-Por isso vos digo, hoje será o dia em que Utter se arrependerá de nos ter desafiado e de numa atitude covarde atacar o nosso falecido líder. Eu Bradus, vosso líder tratarei directamente com Traius esta ofensa.
-Mas meu senhor, não temos homens para os enfrentar de novo! - Avisou um dos mais experientes guerreiros do clã.
-Nem precisaremos. Estamos fartos de guerras eu resolverei com o líder inimigo. Dou-vos a minha palavra que Orguen nunca se renderá!
Pela primeira vez nesse dia, os guerreiros ensaguentados, cansados  e derrotados sorriram e saudaram efusivamente Bradus o filho do ferreiro. 
E a partir desse dia nasceu uma lenda que dominaria toda a Arkhan. A lenda do filho de ferreiro, que resgatou o líder de uma cilada, abrindo caminho com a espada, por entre os inimigos mais bem preparados e mais bem equipados, arranjando forças para miraculosamente carregar o líder ao colo durante 1 km para que este morresse em solo Orgueniano.
Seria o início de vinte anos de conquistas, grandes vitórias e a anexação definitiva de Utter aos usos e costumes Orguenianos, culminados numa só língua, num só Império ...Orgutt.









1 comentário:

  1. :P
    Da mentira e da astucia nasce a lenda, Bradus (troco-lhe o nome com o lider, são muitos "us") o verdadeiro politico oportunista!!

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