quarta-feira, 7 de outubro de 2015

A Saga de Arkhan - Pretorius - Capítulo 13





O amor, soubera-lhe a pouco...
Não fora louco o suficiente,
nem brilhantemente doce,
antes fosse...

Inês Dunas : O pecado da gula
http://librisscriptaest.blogspot.pt/2009/12/o-pecado-da-gula.html


LET IT BURN!!


Ao longo da sua existência, o ser humano tem uma habilidade especial e por vezes secreta de construir refúgios, pequenos portos de abrigos de tempestades ou da ira comum. São sítios físicos ou transcendentes em que se esconde de olhares alheios e onde se perpetua na sua intimidade.
Maleena percebeu perfeitamente isso, da primeira vez que viu o esboço do castelo. Faltava ali uma divisão, mais concretamente uma pequena sala, disse ela a Braddus. Um sítio , onde pudesse se dedicar à leitura ou a bordar ou simplesmente a descansar. O imperador, não discordou e mandou-a falar com os responsáveis pela construção e desde então aquela sala é verdadeiramente o seu tesouro, o seu porto de abrigo.
De início ia sozinha para o quartinho, como ela lhe chamava, mas a verdade é que inúmeras vezes se aborrecia e acabava mesmo por adormecer aborrecida. Um dia,no pico do verão, quando os fortes raios solares incidiam com toda a violência sobre as paredes do castelo, Maleena ousou livrar-se do seu vestido , da sua coifa, do espartilho, de toda a roupa e deitou-se no chão, nua e suada, satisfeita por ter a aia a guardar a porta e jamais alguém a ousar interromper. Naquele espaço era livre, era mulher, era única e o corpo reclamava atenções e caricias que só ela lhe podia dar, na experiência da ponta dos seus dedos. O truque era não só arquear um pouco as pernas, mas também o de descrever a separação perfeita dos dois joelhos, tal como o fazia nesse dia.Foi então que ela percebeu que a aia a observava pela frincha da porta e a chamou, sem contudo se mexer. Sallete entrou sem dizer qualquer palavra e substituiu a mão dela pela sua, aumentando contudo um dedo, na carícia.
Desde então, as duas têm vindo a partilhar experiências e intimidades, ganhando as tardes mais sabor após os encontros sexuais de Maleena com Brunnus, que eram descritos pela imperatriz em voz de malícia aos ouvidos da jovem aia, que tentava em doses avançadas de ciúme igualar nas sensações oferecidas pela sua língua e dedos à imperatriz, num ritmo louco.
A espiral de loucura que atingira Orgutt, nomeadamente o interior do castelo pareceu ter o condão de afectar cada interveniente embora de forma peculiar e distinta. Maleena a imperatriz criança, assistira em apenas dois dias a uma reviravolta completa ao que até aí apelidava de sua vida. De uma assentada vira os seus planos de invasão ao reino adversário serem questionados e alterados por Braddus, levando-lhe em consequência dessa alteração, o seu jovem amante para a batalha, como ainda viu o seu poder ser colocado em causa com a atitude de Pretorius seu filho, que não lhe deixou outra alternativa senão o de o esbofetear em frente de membros da corte.
Enquanto subia a escadaria larga de pedra, atrás da sua aia, o seu coração experimentava agora novos ritmos acelerados de batimentos e provavelmente o tum, tum já se ouviria em todo o castelo, num excesso de pânico e loucura que tomava conta dela. Agora que a aia lhe contava que o interior dos seu aposento havia sido vandalizado por mão alheia e anónima, foi para a imperatriz a gota de água. Entrando abruptamente no quarto, dirigiu-se rapidamente para o móvel de duas gavetas e nervosamente passou a mão no interior da primeira gaveta e constatando com terror  que a tampa do fundo falso estava aberta e as cartas não estavam lá.
Naquele preciso momento, as forças deixaram-na temporariamente e o pânico procedeu ao ataque final. Esquecendo-se da sua posição no castelo, esquecendo-se que se encontrava de frente para Brunnus e para a aia, ela ajoelhou-se e principiou a chorar convulsivamente.
A dignidade já tinha sido perdida, no momento em que recebera o sexo de Brunnus dentro de si. A honra, seria agora conspurcada na boca de quem lesse as bonitas cartas de amor e desejo do jovem general e a sua vida, de repente, passara a valer muito menos que a de um prisioneiro de guerra.
Ao aperceber-se da fragilidade emocional da sua superiora Sallete, a jovem aia de ombros curtos e cabelo castanho muito curto, foi rápida a fechar a porta atrás de si e num modo maternal ajudou a imperatriz a se recompor, sentando-a no cadeirão, enquanto lhe alisava o cabelo, nos intervalos em que a beijava na testa,enquanto Brunnus permanecia estático, sem saber o que fazer ou dizer:
-Dizei-me que não é verdade! - Implorou a imperatriz.
-Lamento senhora. Alguém pegou nelas. -segredou a aia ao ouvido.
-Pelos Deuses, se Braddus lhes deita a mão, será o fim de tudo!
-De que falais Maleena? - Indagou o general.
-Das cartas Brunnus. As vossas cartas...desapareceram.
A face do jovem empalideceu de morte e gotas de suor de alarme surgiram como lágrimas de prata na sua testa alta :
-Que dizeis? Quem poderá ter roubado?
-Como quer que eu saiba? - Defendeu-se a aia.
-Mas porque haveis guardado as cartas?
A imperatriz recuperara algum auto-controle e pousando o seu olhar no rosto do jovem general, respondeu sussurrando: 
-Porquê? Para beber as vossas palavras em todos os minutos que estou longe da sua presença. Para decorar, linha a linha, palavra a palavra todo a vossa veia poética e guardar na minha mente o vosso amor, já que o coração se encontra cheio...
-Calma majestade, se a ouvem...
-Oh Sallete, está tudo perdido.
-Mas vamos com calma.- Brunnus tentava encontrar um fio de raciocínio- Quem poderia ter acesso aqui. Não há guardas?
-Nesta parte do castelo nunca houve.
-Estranho. 
-Não tanto general. Foi desejo da imperatriz, de forma a ter alguma privacidade.Quanto ao acesso, vós sois o único para além de nós a entrar aqui.- Sallete exibia um estranho olhar malicioso, enquanto pousava ostensivamente a mão num seio de Maleena.
-Mas sem guardas qualquer um dos residentes no castelo o poderia ter feito.- Esforçava-se o general para voltar ao raciocínio.
-E quem podia saber das cartas? Ninguém. - Indagou e respondeu Maleena, segurando a mão da aia sobre o seu seio.
A aia olhou pausadamente para o general, agora que Maleena abrira o jogo, ela ansiava já não ser tratada como uma simples aia. Contemplou por segundos as calças de montar do general, como se esperasse ver algum volume e de repente, levou a mão à boca e a medo proferiu:
-Temo não ser bem assim. Creio ter cometido a inconfidência de ter contado a mais alguém.
A imperatriz encarou com fúria os olhos arrependidos da aia:
-Oh majestade, perdoe-me mas posso ter dado a entender a Zvar que..
-Ao Zvar? - Berrou a imperatriz puxando os cabelos da aia, visivelmente descontrolada.
-Perdão majestade, mas mesmo assim eu...- Numa tentativa de se controlar, a imperatriz tapou-lhe a boca com a mão.
-Pelos Deuses, se Zvar sabe, o imperador também saberá. - Deduziu Brunnus.
Maleena largou a aiase abruptamente e empalidecendo cada vez mais, juntou contudo forças suficientes para lançar um último apelo:
-Brunnus, fazei o que vos digo. Fugi! Fugi para bem longe daqui. Esquecei-me, esquecei Orgutt e parti. 
-Maleena sabeis que não vos deixo.
-Não sejais casmurro ou infantil jovem Brunnus! - Explodiu ela já nuns décibeis elevados- Se Braddus sabe, estamos os dois condenados. Não deveis sofrer por culpa do meu descuido.
-Fui eu que vos escrevi. O descuido também foi meu. Fuji comigo Maleena.- Brunnus ajoelha-se aos pés da imperatriz.- Partamos agora, sem pensar duas vezes. Sabeis bem que Braddus não vos merece e já vos mostrei a força do amor que sinto por vós.
A palidez da face da imperatriz foi substituída por uma cor avermelhada, ligeiramente brilhante:
-Oh querido Brunnus, bem sabeis que esse não é o meu destino. O meu destino é aqui, em Orgutt preferencialmente consigo a meu lado. Se não posso ter o império e o vosso amor, então de nada me serve viver.
- Fugiriamos para o Norte, pediríamos asilo ao Senhor da Guerra e começaríamos uma nova vida. - Adiantou ele, como se não tivesse ouvido a imperatriz.
-Parti vós. Ide agora, deixai acalmar a poeira e a tempestade que se abateu sobre o nosso império. Alguma saída haveremos de achar.
Maleena levantou-se avidamente, ondulando a saia e mantendo-a segura em arco pela mão direita, caminhou atá ao corredor:
-Ide falar com Pretorius que eu tentarei perceber exactamente o que o imperador sabe.
-Com certeza majestade. - Respondeu o general, escondendo alguma frustração na sua voz. 
-Majestade e eu? - Perguntou a aia a chorar.
-Quanto a vós, depois falaremos.
Mesmo no fio da navalha, mesmo já sentindo a fúria da decencia moral de todo um império sobre si, Maleena reunia a coragem, não para lutar, mas pelo menos para conter os estilhaços da explosão.
Fosse como fosse, pensou a imperatriz para os seus botões, Orgutt já estava a arder...Pois que ardesse!












1 comentário:

  1. E finalmente venho redimir-me desta ausência vergonhosa e vejo que a história está on fire! Será a aia castigada ou a rainha tb nutre sentimentos por ela? Acho que vou ter que descobrir mais!
    Beijinhos em ti

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