quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Lápide - capitulo 5






"No fundo, vive-se muito pouco e raramente nos damos conta. Construímos um Império de minutos, numa terra de segundos, amarramos tudo num bonito laço e chamamos-lhe de vivência."

http://rabiscosdealma.blogspot.pt/2012/05/monologo-juzante-e-mais-alem-ultima.html




ADIEU, ADIEU!


Somos pela nossa essência perigosos, rebeldes, indomáveis e acima de tudo pouco confiáveis. A mesma ordem perfeita e universal que rege a natureza não se aplica a nós humanos. Pelo contrário essa ordem da natureza que cinge o universo aprendeu a  temer toda a nossa raça precisamente porque nós não nos adaptamos a nenhum lugar. Nós transformamos esse lugar para podermos nos adaptar a ele, retirar dele tudo o que pretendemos a nosso belo proveito e depois de saciados, atirar com as sobras para um canto sem qualquer ponta de remorso. 
A raça Humana é tão agressiva que se tenta proteger dela mesma, criando mecanismos e tentativas de controle. A uma dessas tentativas chamaram-lhe sociedade, criaram regras e leis, criaram forças de autoridade por se ter a certeza que logo seriam prevaricadas e construíram prisões, publicitadas com carga negativa para se ter medo. E vivemos todos obedientes, com medo dessa instituição e cientes que ninguém quer ir para lá. Por se ter tão bom resultado ( leia-se prisões cheias de indivíduos que não esconderam a sua essência bestialmente humana,) criamos outras formas de prisão, sem edifícios a que deram o nome e trabalho, emprego, casamento, lar, convivência e sim...Vamos andando em rebanho, mas como somos mais bestiais que uma besta, apenas aguardamos uma oportunidade ou uma vontade alheia para rasgarmos convenções, faltarmos à palavra e voltarmos a ser o que sempre fomos sem máscara...Animais!
 O grande problema dessas tentativas de controle deriva de as mesmas serem aplicadas e policiadas por outros humanos ( aí está a ironia da coisa), logo a chance de ser algo perfeito perde-se rapidamente no mínimo conflito de interesses.
Regras! Leis! Obrigações! Para quê? Para no fundo se ter a certeza que mais cedo ou mais tarde, um de nós as quebrará. Será tipo a armadilha para coelhos dos caçadores. Montam a dita num local óbvio, adornam-na de forma a ficar cativante, a dar segurança e sentam-se atrás de um arbusto de cigarro no canto da boca à espera da próxima vítima. Porque havendo coelho por ali, seguramente em alguma altura cairá na armadilha. Como poderia não cair? A tentação é tão grande quando nos dão a sensação de segurança necessária.
Assim como o casamento. Um contrato celebrado, um pedaço de papel assinado num local majestoso, coberto de santos e anjos que na verdade ninguém pode assegurar que as suas feições seriam mesmo assim, uma festa de arromba com inúmeros convidados ( no fundo testemunhas involuntárias de um despiste há espera de acontecer ao longo dos próximos anos) entre duas almas que se juram amar até ao fim dos seus dias, que juram se apoiar na doença e no infortúnio e caminhar lado a lado em direcção à felicidade...Dura enquanto a ilusão da segurança o permitir. À mínima contrariedade, à mínima hesitação ou ao mínimo amuo, tudo é colocado em jogo. Na prática passamos a partilhar um espaço, uma casa e uma cama com quem julgamos conhecer. Não cientes disso ainda arrastamos a família dos dois lados, os amigos, os gostos moldados de forma a minimizar choques e vamos sobrevivendo nesta aventura estranha de sermos guiados só porque sim, só porque ele/ele quer, só porque tem de ser e embarcamos na inglória tarefa de conseguir um emprego mal pago, mal gozado, mal amado, só porque temos um lar a manter. E o lar aumenta de lotação e o salário desce vertiginosamente nas montras mais próximas das necessidades dos novos residentes e farmácias e vacinas e escolas e roupa. Chuva, sol, frio calor, carruagens de comboio cheias, pequenos-almoços mal digeridos, horas de ponta enfiados qual cardume em cativeiro, nas deslocações de um cubículo ( trabalho) para o outro ( casa). Choros, gritos, refeições inacabadas, chão da cozinha com todos os vestígios de comida que o mais novo pintalgou com a colher irrequieta na mão. Televisão sem som, vinho sem sabor, arroz quase cru, pequenos pedaços de pão mordidos à pressa e nunca o silêncio.
Nervos à flor da pele, crispações só porque o puto arrotou à mesa ou não quer comer a sopa. Anúncios de castigos maiores ou piores caso não a coma ( a armadilha da multa, do castigo como forma de submeter a fera ao nossos caprichos ou convenções) a inércia da cama parada com dois corpos de costas voltadas em repouso. Casamento....
Depois a lotação da casa esvazia, deixa de ser um lar. Torna-se abrigo de horas para o dia-a-dia, uma pausa forçada entre horas de trabalho. Já não há berros e gritos de petizes. A televisão tem o volume moderado e trocamos a gritaria por monossílabos atirados à força para cima da mesa na ânsia de que nos deixem em paz. Falta de temas, falta de palavras. procuramos um pretexto para falar de alguma coisa que não seja o dia-a-dia eu a querer falar de futebol, tu a quereres comentar o que a tua amiga de infância concluiu acerca de qualquer assunto. Enfado...
Deixamos de nos sentar à mesa. A Maria prepara a refeição e deixa-a embrulhada em jornal. O primeiro que chegar a casa come e vai à sua vida. Já não se liga a televisão da cozinha, já não se perde tempo, mas invariavelmente também não se ganha. Desperdiça-se esse tempo  enfiado num sofá ou ao telefone com alguém e vai-se para a cama, para os lençóis frios e mecanicamente a cabeça já está a pensar no dia seguinte, com a ilusão de que amanhã será sempre um grande dia. 
Mas palpita-me agora que tu já sabias disto tudo. Estou agora certo que tu saberias que amanhã seria o teu grande dia, quando ressonavas a meu lado, dando-me a ilusão que seria apenas uma noite igual às outras. Merda, até o mais insano do criminoso tem direito a uma última refeição, a um último desejo e tu nem um beijo de despedida. E assim que basicamente a construção de açúcar de um branco imaculado doce se desmoronou em horas. Sem aviso prévio, sem grande publicidade. Caiu como um prédio aparentemente robusto mas roído pelo rato no tempo nos alicerces de anoso teu lado, tipo velório de corpo presente. Eu estático a olhar para ti e tu apesar de parada, estavas com esse teu cérebro criminal a congeminar o dia do golpe fatal. Mais concretamente o dia e a hora em que me aplicarias o golpe, qual cirurgião experiente de forma a não me matar, mas a deixares-me esvair em remorsos e culpa, sem piedade.
Piedade... De início foi o que pensei das intenções da nossa Maria, toda solícita para comigo. Eu que mal a conhecia, que nem ligava à sua presença no nosso lar, que não me importava sequer com o trabalho dela enquanto nossa criada ( eu resisto ao termo de empregada), desde que o mesmo aparecesse feito, de forma a que besta como sempre fui, me servisse e usasse esse tempo que ela desperdiçava a engomar as minhas camisas, a lavar as minhas cuecas, a esfregar o chão da casa de banho ( as tuas paranóias cirúrgica Leonor sobre os "bichinhos", germes e afins do WC ) e no entanto ela continuava transparente, invisível aos meus olhos.
E agora que me encontro no chão da cozinha, manietado,chupado, urinado, gozado e de lâmina encostada no pescoço pela mão da violada Maria, tento recordar num qualquer flash cinematográfico a ultima vez que realmente me levaste ao mais recato orgasmo. Pois não me lembro! 
Mas a Maria de sexo húmido, mamilos erectos e de pernas abertas, beija-me repetidamente, talvez admirada pela rigidez do meu membro espetado, voluntário para todo o serviço, pronto a lapidar diamante se a isso fosse obrigado e corta-me ao de leve no ombro. Sinto a ponta da faca a cortar-me a pele, sinto tudo com uma intensidade medonha, penso que só queira ver sangue. Fala algo repetidamente talvez na secreta esperança que a ouça, chupa-me o ombro, cospe-me na cara, ri e fala gesticulando...A faca ensanguentada a desenhar círculos imaginários no ar, aplica outro golpe descendente sobre o meu peito, incidindo apenas a ponta da lamina acima do meu mamilo e eu berro de dor ( ou será prazer?) e ela ri. Viro a cara para o lado, numa desobediência silenciosa e ela reage agarrando-me no queixo, forçando-a a olhar de frente ...Afinal é o Show dela!
Tento me levantar, não para fugir, não para me defender, mas para dar descanso aos músculos da perna que irrompem num formigueiro de inactividade, fruto da posição a que foram forçados. Ela responde com uma ponta do pé, atirada sem remorsos às minhas partes baixas e eu berro e gemo e ela cala-me a boca, colocando a vagina nos meus lábios, na minha boca, "lava-me!" parece dizer ela excitada com a minha primeira reacção ou tentativa de parar aquela loucura.
Sinto na boca toda a perversa inquietude do seu sexo febril, num fluxo de gozo, mel de tesão na minha língua de urso amestrado,. Se é para ser assim, que o faça convenientemente. Ergo o indicador da mão direita e espeto-o sem contemplações e meto o anelar e sei lá, tiro dedos, meto dedos e toda ela geme, monta-me os dedos aplicando golpes de pompoarismo em uivos sonoros, contorce-se e senta.se no meu sexo e cavalga-me como se eu fosse um Equus Ferus, um Tarpan pronto a levá-la a galope pelas planícies mais verdejantes da mente.
Sobe e desce em mim, repetidamente e loucamente, murmura-me coisas, morde-me o lóbulo da orelha direita, cospe-me, morde-me a maçã do rosto, puxa-me os cabelos e eu rijo, hirto, competente, frenético, possante, demente...
E gozo, escorro tudo o que tenho, numa taquicardia ritmada com a velocidade do desejo. Cara Maria violadora do meu corpo, já não tenho forças! Já não me sinto, já não me tenho, já não me envergonho. Vai-te e deixa-me aqui ensanguentado, esvaído em prazer, ou então faz o que bem entenderes, mas por favor não me fodas mais, que eu já não aguento!

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