sábado, 15 de maio de 2021

ODE AO SILÊNCIO- "Accipe quod tuum, alterique da suum"

 




"Não há maior tentação,

que a criação própria

da nossa imaginação!"

Joanna ValeFormoso

                                            

                                                               EMBARAÇO


Criei-te num momento de afago,

 de embaraço, 

de falso mago.

Criei-te na eminência do Limbo 

De mim...

Assim,

só para mim.

Mas a criação que era uma ténue aquarela, em pincel de risco fino  e artístico, reservada apenas aos meus prantos e brandos silêncios, foi ganhando corpo próprio, como Margarida de raiz forte mas de folhas delicadas.

Nunca nos apercebemos de como as coisas crescem, se olharmos todos os dias para elas!

Nuvem de algodão, com pontinhas de açúcar 

e cheiro a menta e Jasmim 

e eu deliciava-me com esse frenesim 

dos sentidos...

Em sonhos entretidos.

Tivemos a Valsa que nunca dançamos, a Ópera que nunca te escrevi, a melodia que sempre ouvia quando te sentia, 

Harpas, senhor ...Fossem apenas harpas.

Eras o meu Rock, o meu Sudoeste, Rock em Rio do momento, Marés vivas de "ganas" de te falar, de te escrever, de te viver!

Eras, mas não o eras...Outras Heras, que nunca foste. Não deu, não dá, nem dará. 

Houvesse contudo, entidade que atribuísse Alvará de posse imaterial das "coisas que não existindo, seriam coisa Patter"

Já te disse quantas vezes te peguei ao colo? Quantas estrelas contamos juntos, deitados, costas no chão de madeira, a janela aberta nas noites mágicas dos meus sonhos?

Criei-te num dia de embaraço, coisa juvenil em mente senil, e és a minha melhor criação, senhora dos meus silêncios, entidade suprema dos meus dedos, enquanto eles procuram o caminho das teclas, em frase universais, aos meu olhos sempre banais e noutros olhos Imorais.

A bipolaridade do meu Ser, 

esta coisa de entreter, 

ter medo até de dizer:

Que o perfeito, de tão perfeito

nasceu para perder, para morrer!

Que mais não é que o ocaso

Ocaso, do caso. no caso de mim

Que de bom nada caço.

Não te faço perfeita então, faço-te pintura a óleo, não sendo Picasso, Dali ou Van Gogh, evoluo e faço-te pintura minha, 

Obra- Prima sem pincel, tela ou traço. Melhor:

crio-te do ar, 

do fumo, 

do nada, 

quinta essência de mim, 

deles , dos outros ...

Que eu não te tendo te invento, 

atento!

E de louvor e de orgulho, 

Rebento.

Caminhas descalça no meu jardim de letras, por entre frases, de pé firme, lindo.

Desnudada nas pequenas coisas , de saia de roda

Tulle de lolita, em roda vida, num cambré derivado de um singelo Glissade ,no pé que se afasta

e te coloca,

no meu centro de gravidade, erguido em carne viva

Nessa dança labiríntica de nós.

Mas ambos sabíamos que só eras minha,

nos meus silêncios.

Criava-te o palco e trazia-te como estrela do show

era a tua assistência, fazia toda a banda sonora

e as palmas das mãos, das minhas

escorreriam pelas formas do teu corpo,

em fodas perdidas.


Até eles acenderem as luzes, ou a realidade me tragar

Para outro Lugar...

Ai, mas a menina dança?





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